sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Lei e ordem!

Ei, você que lutou pelo direito de se expressar como quiser, você que foi obrigado a se calar ou falar em códigos na época da ditadura militar, você que sonhou em ver a liberdade de expressão na Constituição, ou simplesmente você que sabe apreciar a importância disso: não pegue tão pesado com o Michel Teló. Não acuse o Restart e o Justin Bieber de serem a causa da decadência da humanidade ou a prova de que a juventude está perdida.

Ei, você que já viveu sob a égide de um governo sem lei, você que já sofreu com os abusos e despotismos de uma autoridade que não tinha cartilha que a freasse, você que sabe a importância de haver normas positivadas: não xingue o presidente do STF por ele ter negado seguimento ao mandado de segurança impetrado em favor das famílias expulsas do Pinheirinho. 

As gerações passadas sofreram e lutaram para conquistarem algumas garantias e ver alguns direitos assegurados constitucionalmente. Não podem, então, a título de "consertar o que está errado" ou preservar ou evitar algo, tentar passar por cima das leis ou recusarem-se a dar voz a quem queira falar.

O princípio da legalidade é uma segurança e tanto. Vive-se com muito mais segurança quando se sabe o que é permitido e o que não é. Do mesmo modo, vive-se com muito mais dignidade quando se tem liberdade para expressar pensamentos e debater ideias. Há, é claro, quem abuse destes direitos e garantias. Mas, enfim, é este o preço que se paga para que eles permaneçam existindo.


Há quem aproveite as conveniências da Internet para fazermos "muito barulho por nada"... Alguns dizem coisas bem interessantes, outros falam besteiras, outros juram que estão acrescentando algo para o mundo quando na verdade estão apenas preenchendo espaço... 



Poder-se-ia dizer que o fato de alguns fazerem mau uso da exposição concedida pelas redes sociais não facilita a vida de quem realmente diz "coisas que valem a pena", fazendo com que "os justos paguem pelos pecadores", mas afinal, quem pode dizer o que é que presta e o que não presta?




De uma maneira geral, não se pode negar privilégios ou concedê-los em demasia a um ou outro. Pode-se impor que sejam usados com moderação, mas até isso deve constar em uma norma que se aplica a todos, sem exceção. 


A súmula 267 do STF impede que se aprecie mandado de segurança quando o ato coator ainda for passível de outro recurso. Em virtude disto, não pôde o Ministro Cezar Peluso dar seguimento à petição interposta pela Associação Democrática por Moradia e Direitos Sociais de São José dos Campos/SP, que visava fazer cair a ordem judicial que expulsou as famílias instaladas na área reclamada por Naji Nahas, chamada de "Pinheirinho". É cômodo julgar sem procurar saber, criticar sem entender, é fácil xingar o Ministro sem saber que o pedido era juridicamente impossível. O que esperavam que ele fizesse? 


As mesmas leis que a sociedade julga injustas são as que compõem a ordem e impedem o caos.  Da mesma massa que saem a futilidade, a escória e o desserviço, saem as coisas que vão transformar a humanidade e tocar os corações. 



O panorama não pode ser subvertido sob o pretexto de "fazer justiça", pois uma vez aberto o precedente, dá-se margem para que se faça o mesmo de novo... E da próxima vez, o objetivo pode não ser tão nobre.

Padrões de beleza

Acho o máximo quando a Kim Kardashian resolve fazer algum ensaio fotográfico de biquíni, sem a menor vergonha dos pneuzinhos, cheia de orgulho do quadril de quase 100cm, e toda poderosa mesmo com uma barriguinha que, apesar de bonita, não é retinha e nem cheia de gominhos. 

Eu consigo aceitar que modelo de passarela tem que ser magérrima. Eu consigo aceitar que miss tem que ser alta e magra. Eu consigo aceitar que fisiculturistas não são pessoas obcecadas pela forma física. Eu consigo aceitar que nem toda gostosa, peituda e bunduda é piriguete e vulgar, assim como consigo aceitar que para ser aceita na comunidade intelectual não é preciso ser gorda e feia.

Eu entendo que há diversos tipos de beleza, diversos biotipos, diversos tipos de corpos de acordo com a disposição genética e hormonal da mulher, ou também de acordo com as escolhas que ela faz em relação à sua alimentação e hábitos esportivos.

Para mim é bastante tranquilo entender que não dá para impor que se aceite qualquer tipo de padrão em qualquer ocasião, pois certas ocasiões requerem padrões específicos.

Não critico as modelos que são magras por natureza e que permanecerão sequinhas ainda que comam bastante. Também não critico as gostosonas que se sentem bem assim mesmo sabendo que as roupas das vitrines não foram feitas especialmente para elas. Igualmente, aceito as saradas que escolhem dedicar suas vidas ao treinamento e aos hábitos saudáveis. 

Eu só não posso aceitar que retirem um padrão de seu contexto e imponham que ele é obrigatório para todas as pessoas, sob pena de elas não serem aceitas pela sociedade.

Flúvia Lacerda, Alessandra Ambrósio, Kim Kardashian e Nicole Eccel: lindas, cada uma com seu padrão

Em quem acreditar?

"Será que alguma coisa nisso tudo faz sentido?
A vida é sempre um risco, eu tenho medo do perigo...
(...) Será que existe alguém ou algum motivo importante que justifique a vida ou pelo menos esse instante?"
('Lágrimas e chuva', Kid Abelha)


Enquanto se vive acomodado no conforto de uma vida fácil, com crenças preestabelecidas e conceitos mastigados, não há dilema para ser pensado, não há problema com o qual se deva preocupar. Entretanto, à medida que surge a curiosidade de saber o que há por trás e por dentro do engendro do mundo, quem tem pouca fé pode ter suas estruturas abaladas.

Há muito para se acreditar, aos que estejam dispostos a serem convencidos. E há muito para se descobrir, aos que estejam dispostos a desconfiar de tudo.

Onde está a verdade? Em quem se pode confiar? 

Amor e ódio coexistem nesse mundo, verdade e mentira pairam no ar sem que seja facilmente possível detectar qual é qual. A quem se agarrar, nestes momentos? O que vai garantir a nossa sanidade em meio a tantas teorias, possibilidades, profecias e interpretações?

Nessas horas é que se apercebe a importância da fé, a importância de poder contar com ao menos uma certeza inquestionável - e que ela se faça inquestionável não porque não pode ser questionada, mas sim porque já o foi inúmeras vezes e ainda assim se provou certa. Seja qual for a crença, a convicção ou a religião; se ela se mantém estável em meio às incertezas, é nela que você deve se firmar.

A minha é esta:


"Allan Kardec afirmou: 'Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade'. 
Acreditar em Deus, na imortalidade do Espírito, na excelência dos postulados da reencarnação e permitir-se abater quando convidado á demonstração da capacidade de resistência, é lamentável queda na leviandade ou clara demonstração de que a fé não é real... 
Permitir-se depressão porque aconteceram fenômenos desagradáveis e até mesmo desestruturadores do comportamento, significa não somente debilidade emocional que apenas tem fortaleza quando não há luta, mas também total falta de confiança em Deus. 
Quando a fé é raciocinada, estribada nas reflexões profundas em torno dos significados existenciais, tem capacidade para enfrentar os problemas e solucioná-los sem amargura nem conflito, para atender as situações penosas com tranquilidade, porque identifica em todas essas situações as oportunidades de crescimento interior para o encontro com a VERDADE. 
O conhecimento do Espiritismo liberta a consciência da culpa, o indivíduo de qualquer temor, facultando-lhe uma existência risonha com esperança e realizações edificantes pelos atos. Não apenas enseja as perspectivas ditosas do porvir, mas sobretudo ajuda a trabalhar o momento em que se vive, preparando aquele que virá". 


("Fé inabalável", mensagem de Joanna de Ângelis, do livro "Atitudes renovadas", psicografado por Divaldo Pereira Franco)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Posturas


Em alguns momentos me parece que há uma linha fronteiriça entre a pessoa que sou e a pessoa que venho lutando para ser; o que entretanto não significa, necessariamente, que luto para não ser a primeira, tencionando alcançar somente a segunda. 

Às vezes tenho a impressão de que há muito em mim daquilo que quero ser, e nesta pessoa que desejo ser, há muito da outra também. 

É como se, em verdade, não se tratasse de duas pessoas diferentes, tampouco dois estilos ou ideologias diferentes... O que existe é somente duas coisas diferentes, dois lados, dois tipos de personalidade, sem que uma exclua a outra, embora ambas sejam tão peculiares. E eu, no meio disso tudo, faço uma ponte entre as duas, às vezes deixando-me ser uma, às vezes outra; por vezes lutando com todas as forças para ser uma, por vezes buscando motivos para me convencer de que não há problema em ser outra.

O fato é que quero as duas, quero tudo ao mesmo tempo, quero ser uma e outra, quero ser uma terceira personalidade diferente, que nada mais é que uma junção de ambas. 

E o engraçado é que, ao me tornar esta terceira pessoa derivada, acabo perdendo muito da essência das duas originais, pois se elas são essencialmente opostas, não há como coexistirem. Aquilo que passa a existir, portanto, é uma nova forma de ser, um novo conceito onde coisas que outrora se considerava opostas passam a ser normalmente coerentes.

Ou talvez o grande erro fosse crer que realmente houvesse uma oposição. Sim, sem dúvidas, foi um erro. Por que infiltram em nossas cabeças essa ideia de que não se pode ser uma coisa e outra? E mais outra e mais outra? 

Até acredito que haja uma certa inteligência por trás da criação dos estereótipos, porque em essência muita gente é de fato o que está escrito no rótulo; porém, deveria ser uma questão de escolha, e não uma questão de cumprimento de ordens. Quem é o que é deveria assim ser porque quer, e não porque optou por comprar um pacote. 

Estas são as conclusões a que cheguei, e não faço muita questão de ser clara ao explaná-las. Às vezes, no afã de me fazer clara, acabo sendo prolixa demais, e então, as pessoas me compreendem erroneamente. Então, mantenho a atitude pouco explícita, porque francamente, prefiro não ser compreendida a ser mal compreendida.

É o preço que se paga por querer se expressar. As pessoas sempre vão nos julgar pelo quase nada que vêem de nós em cada ocasião em que nos fazemos presentes nas vidas delas, então que diferença faz? Se me explico bem, ou se me explico mal; se me exponho ou se sou discreta... Julgarão da mesma forma.

A verdade é que a única chance que tenho de ser bem vista e ao mesmo tempo não precisar satisfazer expectativas, é dosando a minha própria verdade com pitadas de impressões que pretendo passar... Gosto de ser aceita e receber elogios, mas ao mesmo tempo detesto abrir mão de mim mesma. Tenho dentro de mim, verdadeiramente, um pouco daquilo que realmente quero oferecer ao mundo; não preciso fingir de todo. Mas também tenho em mim aquilo que a sociedade encarará como excêntrico, e neste aspecto preciso usar algumas máscaras.

Porém, o que é verdade mas pouca gente aceita, é que todos são assim. É preciso ser assim, ou o mundo seria um caos. Sinceridade e hedonismo, levados ao pé da letra, são verdadeiros arsenais de guerra. Tudo que coloca o si mesmo em evidência extrema ameaça a paz alheia. Se todos resolvessem ser espontâneos e decidissem fazer o que fosse necessário para satisfazerem a si próprios, a vida em sociedade seria uma constante guerra de eus. 

Eu entendo o que Thomas Hobbes quis dizer quando afirmava que o estado natural do homem é bélico, e não pacífico (como Rousseau acreditava). O homem egoísta é uma ameaça ao bem estar da comunidade. Para que todos convivam bem, é preciso que todos abram mão de um pouco de si mesmos. 

"Por isso, quando não existe um poder comum capaz de manter os homens numa atitude de respeito, temos a condição do que denominamos guerra; uma guerra de todos contra todos." (Hobbes, em "O Leviatã")

É por isso que existe lei, é por isso que se tipificam crimes, é por isso que existem obrigações a serem cumpridas, seja qual for o meio coercitivo (a própria lei, a moral, a religião, ou o que for). 

Há milhares de anos nós tomamos essa decisão. Todo mundo sabe que não dá existir felicidade coletiva se um só indivíduo optar por ser completamente feliz. Por que justo agora a sociedade resolve adotar essa atitude mesquinha e hipócrita de olhar feio para quem falseia a si mesmo um pouquinho?

Eu certamente seria apedrejada se declamasse em plenos pulmões que acredito na importância do disfarce e da falsidade. Os romances de massa, as novelas e as frases-feitas de redes sociais da Internet lavam as cabeças dos românticos alienados, fazendo-os acreditar que a franqueza é um trunfo e que quem engole desaforos em nome da boa convivência é fraco. 

Pois bem, eu prefiro uma convivência cordial, ainda que dissimulada, a um ambiente em que todas as cartas ficam expostas na mesa. Guardo somente para mim as minhas opiniões sobre você e fulano e beltrano, mas enquanto estamos todos juntos, sou simpática e mantenho as boas maneiras. Isso não significa que gosto de vocês, e por isso não estou sendo falsa. 

A educação não é um código típico para ser usado entre amigos; ela é um instrumento de paz. Qual a vantagem de declarar guerra, ou amor, ou o que quer que seja? As afinidades ou aversões aparecerão naturalmente, mas ninguém precisa levantar nenhuma bandeira. Não amo todos que passam pelo meu caminho, mas posso muito bem conviver com eles tranquilamente. 

É claro que tudo isso cansa. Ao fim do dia, a única vontade é chegar em casa, e tirar as roupas, e respirar o ar de um ambiente no qual você pode ser você. E aí vem meu outro ponto: o valor da solidão. Estar em constante contato com os outros significa incorporar integralmente o personagem social que precisamos acionar para fazer as coisas darem certo. Este personagem é uma versão de você, mas não é você - e ser qualquer um além de você mesmo é muito cansativo, pois precisa ser calculado, vigiado. Quando se está sozinho se pode ser o que é, não é preciso esconder defeitos ou forçar virtudes, e enfim se respira em paz. 

Cansa, mas vale a pena. É o preço que se paga para não viver em guerra declarada. No fim, todos saem felizes: ninguém foi cem por cento autêntico, mas ninguém se feriu, ninguém se ofendeu, todos chegaram em casa ilesos e puderam lá contar com a melhor companhia de todas, que é a de si próprio. E por que é mesmo que alguém precisa ser autêntico para ser feliz? Um pouquinho, é claro, é sempre bom, porque toca o coração... Mas o tempo inteiro não é sadio; é invasivo, chega a ser irritante.

Esta é a minha proposta. Não é muito radical, tampouco original, pois não vai muito além daquilo que Hobbes propôs. 

Tenho vivido conforme esta ideologia, e tem funcionado para mim. O problema (?) é que muita gente não sabe. Há quem pense que sou o que sou porque sou. Há quem pense que ajo como ajo porque é da minha natureza. Não sabem o esforço homérico que faço para me ajustar às situações. Mas, pensando bem, não é um problema. Se no fim das contas tem resultado em um conceito positivo da minha pessoa, então está valendo a pena.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Consciência da dor

Fácil querer fazer com que o outro se sinta culpado, ignorando a própria culpa em despertar este traço de insensibilidade na personalidade dele. Espera-se muita compreensão e tato para que não se machuque o sentimento próprio, sem se considerar o quanto já se machucou o sentimento alheio. 

Nem sempre nos encontramos na condição de sermos perdoados ou compreendidos por alguém, ainda que a atitude mais cristã deste alguém seja, efetivamente, perdoar e compreender. Passamos uma vida inteira sem medir as consequências que nossos atos têm sobre a vida e os sentimentos do outro, e em uma só vez em que o outro nos fere, instantaneamente nos autovitimizamos. 

O fato é que somente quando alguém nos causa dor é que temos consciência do tamanho da dor que é possível causar a alguém. Estando no polo passivo é que entendemos a gravidade da atitude de quem está no polo oposto. 

E o problema é que não é em todo momento de sofrimento que se busca reflexionar sobre tantos que sofrem por nossa causa. Concentramo-nos tanto em nossa própria dor, que acabamos não nos lembrando de que outrora fomos os algozes.

De qualquer forma, independente da posição em que estamos, o importante é ter consciência do que foi feito - seja sofrer, seja fazer sofrer - e tentar consertar - seja perdoando e não guardando mágoa, seja nos arrependendo e reparando o mal. Afinal, estejamos nós em qualquer situação que estivermos, somos sempre capazes de fazer algo para melhorar o atual estado das coisas, porque todo homem, seja ele o modificado ou o modificador, é agente da sua própria vida.


"O homem é, assim, constantemente, o árbitro de sua própria sorte; pertence-lhe abreviar ou prolongar indefinidamente o seu suplício; a sua felicidade ou a sua desgraça dependem da vontade que tenha de praticar o bem."
(O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XXVII, item 21)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O Brasil precisa de filosofia

Todos se admiram quando assistem aquele comercial que diz que "não são as respostas que movem o mundo, mas sim, as perguntas". A frase é bonita, e muitos que ficam boquiabertos com a sua genialidade mal têm ideia de que ela trata do valor da filosofia. É uma contradição; pois o fato é que a filosofia é subestimada pelas pessoas.

Nas escolas, o ensino da Filosofia e da Sociologia é imposto; na prática, entretanto, nenhuma delas é levada à sério.  "Todo filósofo é louco", costumam dizer.

É uma pena que o Brasil ainda não tenha aprendido a importância da filosofia. A filosofia nada mais é que a ciência do próprio pensar, das idéias, dos questionamentos a respeito do mundo -  questionamentos estes que levam às formações de conceitos e opiniões. Como pode uma sociedade avançar sem pensadores? Como pode um país alcançar qualidade em seus padrões sem cidadãos capazes de formar a própria opinião?

A verdade é que o brasileiro tem preguiça de pensar. O brasileiro gosta de coisa mastigada, lucro fácil, tudo pronto, tudo "na mão". Prefere "dar um jeitinho" a pensar por si próprio e encontrar uma maneira honesta de conseguir as coisas. 

Por isto neste país não se valorizam as artes, as ciências humanas e sociais. Porque elas tratam do meio, e não do fim. Porque elas exigem o pensar, o refletir, o questionar. Como consequência deste desprestígio, os trabalhos profissionais nesta área são mal remunerados, o que só vem a contribuir para que a sociedade as desrespeite e menospreze.


O brasileiro adora repetir chavões sobre educação. Ninguém discorda que somente com a melhoria da educação é possível fazer nosso país progredir. Entretanto, acha-se muita gente desacreditada na filosofia, na sociologia, nas ciências humanas; gente esta que nunca parou para pensar que a base da educação está no próprio filosofar, pois sem filosofar não se quer saber nada, e sem querer saber não se construi aquilo que se ensina; gente esta que nunca parou para pensar se o fato de os países por ela considerados "avançados" valorizarem as ciências humanas e sociais, quer dizer alguma coisa; enfim, gente esta que nunca parou para pensar; ponto.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Beyoncé, o sexismo e a submissão

Como é bom ter o direito de mudar de opinião! Como é bom ter a oportunidade de enxergar uma situação sob um novo ângulo e, então, conceber uma nova ideia, mais elaborada e lógica que a anterior! - uma famosa sentença atribuída ao Barão de Itararé já dizia que "triste não é mudar de ideia, triste é não ter ideia nenhuma para mudar".

Semanas atrás, fiz uma resenha do álbum "4", da cantora Beyoncé... Ao discursar sobre a canção "Run the world", classifiquei-a como uma "ode ao mérito feminino", uma "convocação". Ulteriormente, tive a oportunidade de ler uma análise diferente da mesma canção, feita pelo jornalista André Pacheco, no site Vestiário. André enxergou em "Run the world" o que eu mesma havia enxergado na obra de Beyoncé (e comentei a respeito ao falar sobre a canção "1+1", no texto supra citado), mas não nesta canção... 

O jornalista observou que, no videoclipe de "Run the world", apesar de Beyoncé gritar aos quatro cantos que as mulheres mandam no mundo, insiste em portar-se como objeto sexual dos homens, e ao fim, o exército feminino comandado por ela bate continência ao grupo masculino, como que reconhecendo sua inferioridade perante ele.

Beyoncé: uma "Amélia" ou
uma feminista?
De fato, na obra de Beyoncé, é possível observar um certo paradoxo... Afinal, é ela uma feminista ou uma "Amélia"? O que ela prega: a independência das mulheres, ou a submissão destas aos homens? Como ela encara o sexo oposto: como um oponente, ou como um objeto de devoção?

Beyoncé é casada com o rapper e empresário Jay-Z, e apesar de ser muito discreta acerca de sua vida pessoal, em suas canções e entrevistas é possível perceber que tem por ele um amor tão devotado a ponto de quase fazer-lhe perder a pose de mulher poderosa... Em "Dangerously in love" e "Rather die young", por exemplo, Beyoncé canta que Jay-Z é sua vida, que prefere morrer a viver sem ele.

E em várias outras canções, é possível delinear uma Beyoncé que oferece sua subserviência ao homem amado, afirmando que fará por ele tudo que ele quiser, e colocando-se à disposição para satisfazê-lo e servi-lo, de várias formas: em "Cater 2 you", ela canta como a mais doméstica e submissa das mulheres ("I'll do anything for my man..."), pedindo ao seu homem, assim que ele chega cansado do trabalho, para sentar-se e deixar que ela mesma tire seus sapatos, providencie seu banho e sua comida; em "Countdown", ela repete várias vezes o quanto é dedicada ao homem que ama, e conclama suas ouvintes a também fazerem tudo pelos seres amados, até mesmo preparar o jantar de salto alto, se for preciso ("All up in the kitchen in my heels, dinner time"); em "Dance for you", ela oferta satisfação sexual ao seu homem, como uma forma de mostrar o quanto o ama ("I wanna show you much I'm dedicated to you... Tonight I'm gonna dance for you").

Porém, em outras canções, como "Independent woman Part I", ela aclama a independência feminina e exalta as mulheres que não precisam ser sustentadas por homens; e mais: diz ainda que o homem que tentar interferir nesta situação e tentar dar ordens perderá sua chance com ela ("Try to control me, boy, and you get dismissed"). 

"Run the world", aparentemente, seria mais uma destas canções feministas. Entretanto, feita uma análise muito pormenorizada da letra, encontramos algumas contradições e outros detalhes interessantes que dão-nos uma pista de qual é a verdadeira posição de Beyoncé... Vejamos:

- Logo no início da canção, ela avisa e decreta: "Quem manda no mundo? As garotas!". E já começa as estrofes dizendo: "Alguns homens pensam que eles detonam como nós, mas não detonam", e "Desrespeitar-nos? Não, eles não vão.";
- Porém, segundos depois, ela canta: "Garoto, estou só brincando, venha aqui, meu querido, espero que goste de mim, mesmo se me odiar", com uma certa sensualidade na voz, como se estivesse realmente fazendo um joguinho com seu homem, e esclarecendo-o que o que havia dito antes  (sobre a superioridade feminina) era apenas um discurso falso, uma brincadeira;
- Antes do refrão, Beyoncé canta: "Minha persuasão pode construir uma nação"... Reparemos bem no uso da palavra "persuasão", pois logo em seguida ela usa de sua voz mais maliciosa e picante para dizer: "Você fará qualquer coisa por mim...", e imediatamente grita de novo: "Quem manda no mundo? As garotas!". Este trecho é uma evidência clara de que Beyoncé crê que a mulher pode conseguir o que quiser do homem através do sexo e da luxúria;
- Já quase na metade da canção, vem um trecho que eu avalio como uma amostra de que, apesar do já dito, Beyoncé ainda acredita de fato na capacidade feminina de destacar-se pelo que faz: "Essa vai para todas as mulheres que estão conseguindo seus objetivos; para todos os homens que respeitam o que eu faço, por favor respeitem meu brilho";
- Mas, ao mesmo tempo em que exige que o sexo masculino a respeite, Beyoncé busca ser aprovada por ele: "Espero que ainda goste de mim, se me odiar"... Neste trecho, ela manifesta sua intenção de agradar o homem, ainda que ele se sinta irritado com sua proclamação de independência;
- Por fim, Beyoncé brinca com o fato de o homem achar sexy a mulher moderna e independente, que consegue conciliar o papel tradicional de mãe e o seu novo papel de mulher trabalhadora: "Garoto, você sabe que adora a forma como somos inteligentes o bastante para ganhar milhões, fortes o bastante para criar as crianças e então voltar ao trabalho...".  

Enfim... Como visto, "Run the world" dá margem a várias interpretações... 

André Pacheco faz uma observação interessante sobre o videoclipe:

"Beyoncé não fez nada de feminista em “Run The World (Girls)”. Ela convoca uma luta contra os homens, e não o diálogo. A arma usada para reverter a situação de submissão é a bunda, mantendo o mesmo paradigma. Mulheres são objetos dos homens, no vídeo representados por policiais – os vigias do sistema. E, a única coisa que o exército revolucionário de Beyoncé faz para poder levar as mulheres à dominação, é dançar."

É fato que o apelo sexual sempre foi um dos carros-chefe da carreira de Beyoncé. Apesar de ser bastante reservada e até mesmo recatada em seu cotidiano e sua vida pessoal, nos palcos e perante as câmeras Beyoncé é um furacão sexual. Em suas coreografias, prioriza o rebolado e a sensualidade. Em várias letras de canções, como em "Baby boy", "Naughty girl" e "Get me bodied", faz menção ao corpo, ao sexo e à volúpia. Como este tipo de comportamento pode vir de uma artista que também levanta a bandeira do valor da mulher no mundo?

A questão é interessante... Porém, de uma maneira geral, entendo que é possível a coexistência das duas linhas de pensamento: a da mulher poderosa e independente, e a da mulher submissa ao homem que ama, e ambas aliadas a mais uma tese: a da mulher que usa do corpo para agradar seu homem, ou mesmo, para conseguir dele alguma coisa que deseje. É o que observo, não só em "Run the world", mas também do cotejo desta com outras canções de Beyoncé.

Somadas e comparadas todas estas teorias, fica, ao menos para mim, uma conclusão, que não sei bem ao certo se é a de Beyoncé, mas definitivamente é a minha: a mulher realmente situa-se em posição superior ao homem... em alguns aspectos. E em outros, não. 

Feita uma análise superficial (afinal, não tenho condições de perquirir o que realmente se passa na mente de Beyoncé) do conjunto da obra e também da vida pessoal de Beyoncé, concluo que, de uma forma geral e descontextualizada, não se pode apostar nem no homem e nem na mulher como sexo mais forte. Focado o ângulo para algum aspecto específico, aí sim é possível que um ou outro seja superior. 


E tem mais: o fato de um sexo ser superior ao outro em determinado aspecto não significa que seja superior de uma maneira geral... É tudo tão simples que chega a ser ridícula a maneira como uma única verdade pôde desencadear essa famigerada guerra dos sexos! Homens e mulheres não são iguais, e o fato de serem diferentes não quer dizer que um ou outro seja melhor. Aliás, por que é mesmo que alguém tem que ser melhor? 


É verdade que quem declarou o início da batalha entre sexos foi a mulher. De outra plana, contudo, é inegável que o homem colaborou para isto. 


É desnecessário qualquer esclarecimento mais minucioso acerca de como a mulher, desde os primórdios da humanidade, foi desvalorizada, açoitada e rebaixada pela sociedade patriarcal e machista... O ódio reprimido por tantos anos no âmago das mulheres um dia acabou explodindo, até elas criarem coragem de reivindicar a equiparação dos seus direitos aos dos homens, até, por fim, elas se inflamarem tanto a ponto de praticamente negarem sua feminilidade e desejarem ser totalmente iguais aos homens.


Como mulher, tenho uma confissão a fazer: nós, mulheres, morremos de inveja dos homens. Pensamos que eles têm muito mais regalias e vantagens que nós, que a vida deles é muito mais fácil, e isso nos enche de raiva. Afinal, a natureza já nos desprivilegia com tanta coisa (hormônios loucos, cólicas, menstruação, TPM, celulites, estrias, atuação mais intensa da lei da gravidade, parto, fragilidade, menos força física), e ainda por cima a sociedade também faz isso conosco (pagando-nos menos, discriminando-nos mais, enxergando-nos como símbolo sexual mas ao mesmo tempo cobrando-nos habilidades domésticas e repressão da própria sexualidade)? Fica difícil não achar que tudo no mundo conspira contra nós... Fica difícil não querer estar na pele de um homem.


Nesta peleja por buscar um pouco mais de equidade e justiça, a mulher feminista acabou se perdendo. Quis tanto conquistar para si aquilo que o homem tem, que acabou transformando a si própria em um homem; esqueceu-se de quem é, não atentou-se ao fato de que é possível exigir respeito do sexo oposto sem precisar igualar-se a ele.


Como resultado disto, temos hoje o fenômeno da masculinização da mulher, e outrossim, uma consequência ainda pior: na tentativa de conciliar a preservação de sua feminilidade e o novo padrão masculino que escolheu para sua própria vida, a mulher se desgasta, e esse desgaste traz-lhe muito sofrimento. 


E tudo isso para quê? Para provar que ela pode ser homem e mulher ao mesmo tempo? Para mostrar ao mundo que ela não precisa de um homem? Qual o problema em precisar de um? O que há de errado em simplesmente aceitar-se como mulher?


O que há de errado, na visão da mulher, é que conformar-se com o próprio gênero significa conformar-se em ser o lado mais fraco, pois a mulher acredita que a sociedade a reputa mais fraca que o homem.


Na verdade, a mulher não é mais forte nem mais fraca, não é melhor nem pior: é apenas diferente. E essa diferença não decorre só da imposição da sociedade, mas de sua própria natureza. 


A psicóloga canadense Susan Pinker, grande estudiosa do assunto, estatui que é equivocado crer que a sociedade inventou as diferenças entre os sexos, quando na verdade a origem dela está na própria genética. Em entrevista à Folha de São Paulo, Susan afirmou: 

 "As mulheres foram discriminadas por tanto tempo que as pessoas têm uma aversão à ideia de que existe uma diferença natural, biológica. Acham que falar sobre diferenças é voltar a pensar como antigamente, quando, na verdade, não tem nada a ver com discriminação. É bobo ignorar as evidências científicas só porque você tem medo do que elas vão dizer. (...)  O que acontece de bom quando as mulheres aceitam que existem diferenças biológicas naturais é que elas se sentem muito menos isoladas com seus sentimentos." (fonte:  http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u709956.shtml)



Conforme o próprio título da matéria, Susan Pinker acredita que a mulher que aceita as diferenças entre os gêneros consegue ser mais feliz. Obviamente, a partir do momento em que um indivíduo abole as cobranças e se aceita como é, ele sofre menos e é mais feliz. 


Por natureza, a mulher possui aptidões e deficiências diversas das do homem... Claro que algumas podem ser desenvolvidas, trabalhadas, aperfeiçoadas; porém, a condição natural dos sexos é distinta.... E não há nada de mal nisso!


Não é por acaso que as mulheres necessitem ser protegidas e os homens possam proteger... Há uma razão de ser para que os homens precisem de cuidados e as mulheres saibam cuidar: um precisa do outro. Ambos são complementares e devem ajudar-se mutuamente. Nossas fraquezas vêm na medida em que necessitamos aprender algo com alguém mais forte...


Sim, pode soar muito louco, mas é esta a minha nova teoria: em alguns aspectos, a mulher pode e deve sim ser submissa. Assim como, em alguns aspectos, o homem também o pode e deve. 


Sendo assim, em algumas searas, é inegável que um dos dois se sobressairá. Nestas, cabe a ele(a) a posição de dianteira, e ao outro, a posição de subordinado. Em outras áreas, o papel se inverte. Quem é mais favorecido em um ponto, lidera - e como ninguém é perfeito em tudo, haverá situações em que o líder transformar-se-á em servente. 


A mulher pode sim ser, ao mesmo tempo, serva e senhora, ser aquela que manda e também aquela que obedece, ser a que levanta a voz e também a que abaixa a cabeça. Em suma, é perfeitamente possível que sujeição e sujeitação coexistam. Por que uma possibilidade deve excluir a outra? A vida não é um polo único. Existem tantas coisas nas quais a mulher pode se destacar, e outras nas quais o homem sai-se melhor... Há espaço para todos brilharem, não é preciso que nenhum tente apagar o brilho do outro.


Se cada um tem suas habilidades e suas fragilidades, por que um não pode auxiliar o outro? Trata-se de um exercício de cooperação, de respeito e de humildade. 


É preciso que deixemos o orgulho de lado, sejamos humildes e honestos para reconhecer que somos inferiores em algumas áreas, e nestas, devemos permitir que o sexo oposto nos oriente e assuma a dianteira. Assim, além de aprendermos com ele, demonstramos que o respeitamos. É desnecessário qualquer combate de egos... As forças precisam ser unidas, não confrontadas. 


Seria imprudente da minha parte dizer em qual aspecto o homem deve ser condescendente, e em qual aspecto a mulher é quem deve sê-lo. Isto é algo que vai depender de cada casal, de cada caso, de cada pessoa. É um chavão dizer que o homem possui mais força física e que a mulher possui maiores habilidades culinárias; todavia, conheço dezenas de exemplos de mulheres capazes de carregar mais peso que muitos homens, e de homens que cozinham melhor que mulheres.





O Livro dos Espíritos, Parte III, Capítulo IX, item VI: Igualdade de direitos do homem e da mulher

817. O homem e a mulher são iguais perante Deus e têm os mesmos direitos?
      — Deus não deu a ambos a inteligência do bem e do mal e a faculdade de progredir?

818. De onde procede a inferioridade moral da mulher em certas regiões?

     — Do domínio injusto e cruel que o homem exerceu sobre ela. Uma consequência das instituições sociais e do abuso da força sobre a debilidade. Entre os homens pouco adiantados do ponto de vista moral a força é o direito.

     819. Com que fim a mulher é fisicamente mais fraca do que o homem?

     — Para lhe assinalar funções particulares. O homem se destina aos trabalhos rudes, por ser mais forte; a mulher aos trabalhos suaves; e ambos a se ajudarem mutuamente nas provas de uma vida cheia de amarguras.

      820. A debilidade física da mulher não a coloca naturalmente na dependência do homem?

      — Deus deu a força a uns para proteger o fraco e não para o escravizar.

Comentário de Kardec: Deus apropriou a organização de cada ser às funções que ele deve desempenhar. Se deu menor força física à mulher, deu-lhe ao mesmo tempo maior sensibilidade, em relação com a delicadeza das funções maternais e a debilidade dos seres confiados aos seus cuidados.

      821. As funções a que a mulher foi destinada pela Natureza têm tanta importância quanto as conferidas ao homem?

      — Sim. e até maior; é ela quem lhe dá as primeiras noções da vida.

      822. Os homens, sendo iguais perante a lei de Deus, devem sê-lo  igualmente perante a lei humana?

      — Este é o primeiro princípio de justiça: “Não façais aos outros o que não quereis que os outros vos façam”.

      822 – a) De acordo com isso, para uma legislação ser perfeitamente justa  deve consagrar a igualdade de direitos entre o homem e a mulher?

      — De direitos, sim; de funções, não. É necessário que cada um tenha um lugar determinado; que o homem se ocupe de fora e a mulher do lar, cada um segundo a sua aptidão. A lei humana, para ser justa, deve consagrar a igualdade de direitos entre o homem e a mulher; todo privilégio concedido a um ou a outro é contrário à justiça. A emancipação da mulher segue o progresso da civilização, sua escravização marcha com a barbárie. Os sexos, aliás, só existem na organização física, pois os Espíritos podem tomar um e outro não havendo diferenças entre eles a esse respeito. Por conseguinte, devem gozar dos mesmos direitos.




Pois bem; o discurso parece fácil quando nos encontramos na posição superior, mas fica complicado colocá-lo em prática quando é preciso ser o subalterno... Especialmente para a mulher, que já foi oficialmente subalterna durante tanto tempo. 


Contudo, o erro do ser humano está em conferir um caráter pejorativo à característica da subordinação. Ser submisso não implica, necessariamente, em covardia e fraqueza de caráter. A subordinação pode ser uma coisa boa. 


A submissão inteligente é aquela praticada pelo indivíduo maduro, humilde e respeitoso, que sabe qual o seu lugar e aceita-o, entendendo que está onde está porque merece e porque tem algo a aprender com isto - e, na grande maioria das vezes, o indivíduo colocado em posição inferior o é para aprender a ser menos orgulhoso. 


A mulher da sociedade moderna acredita que, ao baixar a guarda para um homem, estará desmerecendo todos os direitos e o prestígio por ela conquistados ao longo de décadas de luta. Esse orgulho a atrapalha, e como consequência disso, ela "se recusa" a ser uma mulher para o seu homem, ou seja, recusa-se a fazer o papel de "mulherzinha", pois acha que ao fazer isto, estará recriando o panorama no qual homens mandam e mulheres obedecem. Nessa insistência em manter uma postura de fêmea-macho e fêmea-feminina ao mesmo tempo, a mulher fica tão confusa e perturbada que dá abertura para o surgimento e desenvolvimento de vários problemas de ordem emocional (não consegue abrir seu coração para ninguém, sente dificuldade em doar-se ao companheiro, e por isto sofre com a solidão e o fracasso de seus relacionamentos) e disfunções sexuais (o vaginismo é um exemplo de disfunção sexual que acomete mulheres intelectuais e independentes que recusam-se a serem sujeitadas aos homens). 


É uma lição árdua, mas precisa ser assimilada: a mulher não perde sua dignidade quando consente que um homem lhe conduza. A mulher que reconhece a virtude de um homem e permite que este homem assuma um papel em sua vida, está também abrindo a porta para que a virtude dele a contagie e a auxilie naquilo que ela precisa. Ademais, ao identificar no homem um ou vários aspectos nos quais ele é mais capacitado, a mulher está nutrindo admiração por ele; e a admiração, eu já disse em outros textos, é um dos elementos mais importantes para que um relacionamento progrida estável e feliz.


Ah, e quanto ao parágrafo anterior, não se esqueçam do vice-versa... O homem que tolera uma mulher que gosta de tomar a dianteira em algumas situações não está sendo frouxo... Pelo contrário: é muito digno e nobre de sua parte permitir que a companheira lhe tome a mão e lhe mostre o caminho.


Qualquer um que tem a serenidade de identificar um companheiro como seu superior, e não rebelar-se contra isso, está sendo humilde e resignado. Consequentemente, viverá mais aliviado e sofrerá menos, pois não precisará lidar com a pressão de ser sempre o melhor. A postura de um vencedor inclui entender que não é possível vencer sempre... De vez em quando, outra pessoa precisa vencer. 


Já disse Jesus: "Aquele que quiser ser o maior, esse seja o vosso servidor; e o que entre vós quiser ser o primeiro, seja o vosso escravo; assim como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em redenção de muitos" (Mateus 20:26-28). 


Então, mulheres e homens, não soframos quando for momento de demonstrarmos obediência, tampouco sejamos arrogantes quando for momento de dar as ordens. Todos estamos onde estamos para tirar o melhor proveito da situação: seja para aprender com quem está acima de nós, seja para ensinar quem está abaixo. Na vida, temos somente aquilo que merecemos. Resignemo-nos e aprendamos com isto. 


Ah, e quanto à Beyoncé... Acho que ela já sabe de tudo isto. Não é por acaso que ela e seu marido formam um casal no qual ambos são brilhantes.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

As gerações: Parte 2

"Cada geração culpa a anterior
E todas as suas frustrações vão bater à sua porta...

Eu sei que eu sou um prisioneiro de tudo que meu pai defendeu tão fervorosamente
Eu sei que sou um refém, para todas as suas esperanças e medos
Eu só queria ter dito a ele enquanto ele ainda era vivo...

Pedaços de papéis amassados, cheios de pensamentos imperfeitos...
Conversas interrompidas... São tudo o que tivemos

Você diz que simplesmente não compreende, ele diz que faz sentido
Você simplesmente não consegue chegar concordar com esta tese
Nós todos falamos em línguas diferentes, falando na defensiva

Diga alto, diga claro
Podemos escutar tão bem quanto você
Quando morrermos, será tarde para admitir não que não nos encaramos olho no olho

Assim, abramos uma discussão entre o presente e o passado
E apenas sacrificamos o futuro, e a amargura é que prevalece

Portanto, não ligue para a sorte que às vezes você vê como destino
Pode haver uma nova perspectiva, em um dia diferente
E se você não desistir, e não ceder, tudo pode dar certo..."
("The living years", Mike and The Mechanics)



O ser humano precisa ter senso crítico em relação à criação que recebeu e aos conceitos que assimilou ao longo da vida para não repetir os mesmos erros de seus antepassados. Trata-se de uma postura que envolve, primeiramente, uma análise, e posteriormente, uma mudança de atitude. 

Entretanto, tomada a decisão de mudar o que for possível, de acordo com o aprendizado adquirido da supra citada análise, faz-se necessário ter cautela para não machucarmos estas mesmas pessoas que nos proporcionaram este aprendizado...  A mudança de atitude deve ser feita olhando para a frente, e não para trás.


"Você culpa seus pais por tudo... Isso é absurdo! São crianças como você!"
("Pais e filhos", Legião Urbana)


Nossos pais não são tão culpados quanto pensamos... Apenas fizeram o que pensavam ser a coisa certa. E, se erraram, o tempo já os disse. Se não aprenderam com o erro, um dia aprenderão. Quanto aos filhos, quando chegarem suas oportunidades de serem pais, devem copiar, do modelo de criação recebida, aquilo que concordam, e fazer diferente, quanto ao que não concordam. Cada um tem a responsabilidade e a autonomia de conduzir sua vida e a vida de seus dependentes da maneira que achar melhor... O importante é realmente estar comprometido a dar o melhor de si. 

Uma vez que nos esforçarmos ao máximo para fazer as coisas certas, não nos sentiremos culpados caso fracassemos... Afinal, fizemos o que podíamos. Nossos pais fizeram conosco o que puderam. 

É insensível e imaturo, de nossa parte, jogar em nossos antepassados a culpa pelas coisas que deram errado em nossas vidas. Devemos ser gratos pela oportunidade que tivemos de aprender com eles: seja por aprendermos o que é bom, ou por aprendermos o que não se deve fazer. 

Por uma ótica cômica e trágica ao mesmo tempo, podemos dizer que fomos as "cobaias" deles, e que servimos de experiência. Da mesma forma, nossos filhos serão as nossas experiências. Mas, por outro lado, pensemos também que, se cada geração se dedicar a educar a próxima de uma forma melhor que a anterior, progressivamente a humanidade estará evoluindo...

As gerações: Parte 1

"Não quero lhe falar, meu grande amor, d
as coisas que aprendi n
os discos...

Quero lhe contar como eu vivi, e  tudo o que aconteceu comigo

Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor é uma coisa boa
Mas também sei que qualquer canto é  
menor do que a vida d
e qualquer pessoa...


Por isso, cuidado, meu bem! 
Há perigo na esquina...
Eles venceram e o sinal está fechado para nós, q
ue somos jovens...

Para abraçar seu irmão e
 beijar sua menina na rua é
 que se fez o seu braço, o
 seu lábio e a sua voz...


Você me pergunta pela minha paixão

Digo que estou encantada com uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade, não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento cheiro de nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva do meu coração...

Já faz tempo, eu vi você na rua

Cabelo ao vento, gente jovem reunida
Na parede da memória, essa lembrança é 
o quadro que dói mais...


Minha dor é perceber que apesar de termos f
eito tudo o que fizemos, a
inda somos os mesmos, e
 vivemos como nossos pais...



Nossos ídolos ainda são os mesmos e
 as aparências n
ão enganam, não


Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém...
Você pode até dizer que eu tô por fora o
u então q
ue eu tô inventando...



Mas é você que ama o passado e
 que não vê que o novo sempre vem...


Hoje eu sei que quem me deu a idéia de uma nova consciência e  juventude tá em casa, guardado por Deus, contando  vil metal...


Minha dor é perceber que apesar de termos f
eito tudo o que fizemos, a
inda somos os mesmos, e
 vivemos como nossos pais..."


("Como nosso pais", Belchior)





Cada geração se vangloria de ter algo que as anteriores não tinham... O que será esse "algo" que a nossa tem a oferecer para as gerações do futuro? Será que, dentro de alguns anos, nós nos tornaremos este tipo de pessoa que utiliza a nostalgia como justificativa, que se recusa a aceitar as mudanças? Quantos erros a humanidade permanece cometendo apenas por teimosia...? Quanta coisa ruim poderia ser evitada se ao menos não fôssemos tão tolos de nos agarrar aos preceitos antigos, mesmo que eles sejam comprovadamente ineficazes! 

Assim como ouvimos nossos antecessores dizerem que o mundo de hoje está perdido, certamente eles ouviram o mesmo dos seus quando tinham a nossa idade. É preciso tomar cuidado para não nos tornarmos prisioneiros de uma única visão de mundo: a nossa. 

É preciso ter a consciência de que "o novo sempre vem", e é preciso estar, no mínimo, receptivo às mudanças pelas quais a sociedade passa... Caso contrário, no futuro, poderemos nos arrepender dos erros que cometemos sob o pretexto de preservar uma antiga mentalidade... Em síntese, poderemos nos arrepender de, mesmo depois de tanta luta, continuarmos "os mesmos", e "vivendo como nossos pais".