quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A realidade e a fantasia

Às vezes, quando a vida real não te agrada tanto quanto você gostaria, você se refugia no seu mundinho de fantasias... Mas, quando nem mesmo as fantasias têm sido capazes de trazer algum tipo de satisfação, é hora de tentar buscar refúgio na realidade.

Só não fique iludindo a si mesmo, tirando suas próprias conclusões sobre coisas que poderiam ter acontecido ou sobre o que poderiam ter significado... Não existe nada além do que realmente existe. Não se deixe enganar pela forma como tudo isso tem afetado sua cabeça. 

A vida real pode ser bem legal se você não esperar tanto dela, e pode trazer alegria verdadeira se você se dispuser a aceitá-la como é e lutar para que seja melhor. Mas, para isso, primeiro é necessário que você decida vivê-la efetivamente. 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Amor verdadeiro

"So where do we go from here? And where can love take us?"
('Crawl', Chris Brown)



O que posso fazer, na situação em que estou? Tenho apenas um caminho e ele não me leva a lugar nenhum. Só tenho o sentimento, e por mais forte que ele seja, não é forte o suficiente para estabelecer uma conexão. É, ainda, uma via de mão única. De nada adianta sentir, se o sentimento fica aprisionado dentro do recipiente, incapaz de atingir seu alvo, como uma bala que não pode sair da arma, como um avião que não pode levantar vôo porque de antemão já sabe que não terá onde pousar.

É a própria razão quem me ensina que o amor é o mais poderoso de todos os sentimentos... Então, por que esse mesmo amor parece tão impotente? Qual o sentido de amar se o amor não pode alcançar aquilo que se ama?

...


"Quem ama se depara com a impotência da ação transformadora do próprio amor, quando as situações permanecem, quando as respostas demoram, quando as frustrações acumulam. Mesmo assim, quem ama não desiste de amar e não entende que está jogando fora seu amor.
 É por isso que o amor precisa suportar tudo, sofrer tudo, esperar e manter a fé. Quem ama, suporta dores, cansaço, desânimo, forças contrárias. Quem ama, sempre espera pelo melhor, espera mais uma vez, não desiste."
(Alexandre Robles. Fonte: http://www.alexandrerobles.com.br/o-amor-impotente/)


O amor verdadeiro não é egoísta. Amar verdadeiramente não é esperar amor em troca; é amar na maior proporção em que se pode amar. Quando o desejo de ser também amado é maior que a resolução de dar o máximo de amor possível, então não se trata de amor verdadeiro; trata-se do amor egoísta, interesseiro, que mais tem a ver com carência que com amor propriamente dito.

Provavelmente, é esta a razão pela qual tantas pessoas sofrem por amor. Não é o amor que machuca: é aquilo que nós esperamos que ele seja, que ele traga, que ele mude em nossas vidas. O amor não faz mal, amar não faz sofrer... Sofremos porque esperamos coisas demais do amor, quando a verdade é que a única coisa que o verdadeiro amor espera é que o ser amado seja feliz e melhore a cada dia, a única coisa que o verdadeiro amor deseja é o bem daquele que ama, o único objetivo do verdadeiro amor é fazer o bem.

Amar é doar, é vibrar, é dar, é sentir. O fato de a pessoa amada não corresponder ou não valorizar isto não torna o amor menos completo. O amor enquanto sentimento não requer reciprocidade. A reciprocidade é pressuposto de uma relação amorosa, mas não do amor.

Eu compreendo estas explicações, mas ainda não consigo incorporá-las... É muito difícil aceitar que um sentimento tão forte seja capaz de agir e transformar mesmo quando despercebido por quem o fez nascer.

Não duvido da força do amor. Ainda que o objeto do meu amor desconheça as minhas vibrações e pensamentos a ele dedicados, estou convicta de que não amo em vão. Uma vez que o amor se converte em energias positivas direcionadas a quem se ama, ele cumpre seu propósito... Só não sou suficientemente abnegada a ponto de contentar-me com isso, e creio que isto quer dizer que não amo de verdade, ou que o amor que sinto está ainda em um estágio muito primitivo e que talvez um dia se torne um amor real, mas por enquanto está ainda muito apinhado de outros sentimentos menos nobres... Um deles é a necessidade de aprovação e autoafirmação.

A partir do momento em que você exige que o sentimento seja mútuo, o que você realmente quer é alimentar o próprio ego, é provar para si mesmo que você é digno de amor e que merece a atenção e o carinho da pessoa amada. Você projeta estas necessidades na pessoa e espera que ela te dê o que você quer e te diga o que você quer ouvir... E isso não é amor. Ou, pelo menos, não é um amor puro; é um amor desvirtuado, ou disfarçado de egoísmo, narcisismo, carência e/ou outras fraquezas.

Chega a ser triste constatar que um sentimento aparentemente tão intenso e tão bonito tenha, na verdade, raízes tão viciadas. Mas penso que isso pode ser reaproveitado... Mesmo as nossas energias menos nobres podem tornar-se úteis se forem bem direcionadas. O amor egoísta pode sim se transformar em um amor altruísta. 

Então, a cada vez que eu vibrar com a vitória do ser amado, a cada vez que eu orar por ele, a cada vez que eu ficar feliz simplesmente por ele existir, a cada vez que eu der o melhor de mim para ajudá-lo quando ele precisar, só devo rogar a Deus que me ajude a conservar estas atitudes, para que elas prevaleçam sobre os meus instintos egoístas, até que um dia estes desapareceram e sobeje apenas o aspecto benigno do amor. Por enquanto, está difícil... Mas o dia vai chegar. Um dia consigo amar assim. 


"A vigência do amor no ser humano constitui a mais alta conquista do desenvolvimento psicológico e também ético, porquanto esse estágio que surge como experiência do sentimento concretiza-se em emoções profundamente libertadoras, que facultam a compre­ensão dos objetivos essenciais da existência humana, como capítulo valioso da vida.
O amor suaviza a ardência das paixões canalizan­do-as corretamente para as finalidades a que se pro põem, sem as aflições devastadoras de que se reves­tem.
No emaranhado dos conflitos que às vezes o assal­tam, mantém-se em equilíbrio norteando o comporta­mento para as decisões corretas.
Por isso é sensato e sereno, resultado de inumerá­veis conquistas no processo do desenvolvimento inte­lectual.
Enquanto a razão é fria, lógica e calculada, o amor é vibrante, sábio e harmônico.
No período dos impulsos, quando se apresenta sob as constrições dos instintos, é ardente, apaixonado, cer­cado de caprichos, que o amadurecimento psicológico vai equilibrando através do mecanismo das experiên­cias sucessivas.
Orientado pela razão faz-se dúlcido e confiante, não extrapolando os limites naturais, a fim de se não tornar algema ou converter-se em expressão egoísta.
Não obstante se encontre presente em outras emo­ções, mesmo que em fase embrionária, tende a desen­volver-se e abarcar as sub-personalidades que manifes­tam os estágios do primitivismo, impulsionando-as para a ascensão, trabalhando-as para que alcancem o estágio superior.
É o amor que ilumina a face escura da personali­dade, conduzindo-a ao conhecimento dos defeitos e auxiliando-a na realização inicial da auto-estima, pas­so importante para vôos mais audaciosos e necessários.
A sua presença no indivíduo confere-lhe beleza e alegria, proporciona-lhe graça e musicalidade, produ­zindo irradiação de bem-estar que se exterioriza, tor­nando-se vida, mesmo quando as circunstâncias se apre sentam assinaladas por dificuldades, problemas e do­res, às vezes, excruciantes.
Vincula os seres de maneira incomum, possuindo a força dinâmica que restaura as energias quando com­balidas e conduz aos gestos de sacrifício e abnegação mais grandiosos possíveis.
O compromisso que produz naqueles que se unem possui um vínculo metafísico que nada interrompe, tor­nando-se, dessa forma, espiritual, saturado de esperan­ças e de paz.
O amor, quando legítimo, liberta, qual ocorre com o conhecimento da verdade, isto é, dos valores perma­nentes, os que são de significado profundo, que supe­ram a superficialidade e resistem aos tempos, às cir­cunstâncias e aos modismos.
Funciona como elemento catalisador para os altos propósitos existenciais.
A sua ausência abre espaço para tormentos e ansi­edades que produzem transtornos no comportamento, levando a estados depressivos ou de violência, porquanto, nessa circunstância, desaparecem as motivações para que a vida funcione em termos de alegria e de fe­licidade.
Quando o amor se instala nos sentimentos, as pes­soas podem encontrar-se separadas, ele, porém, perma­nece imperturbável. A distância física perde o sentido geográfico e o espaço desaparece, porque ele tem o poder de preenchê-lo e colocar os amantes sempre pr­ximos, pelas lembranças de tudo quanto significa a arte e a ciência de amar. Uma palavra evocada, um aroma sentido, uma melodia ouvida, qualquer detalhe desen­cadeia toda uma série de lembranças que o trazem ao tempo presente, ao momento sempre feliz.
O amor não tem passado, não se inquieta pelo fu­turo. E sempre hoje e agora.
O amor inspira e eleva dando colorido às paisa­gens mais cinzentas, tornando-se estrelas luminosas das noites da emoção.
Não necessita ser correspondido, embora o seu ca­lor se intensifique com o combustível da reciprocida­de.
Não há quem resista à força dinâmica do amor.
Muitas vezes não se lhe percebe a delicada presen­ça. No entanto, a pouco e pouco impregna aquele a quem se direciona, diminuindo-lhe algumas das desa­gradáveis posturas e modificando-lhe as reações con­flitivas.
Na raiz de muitos distúrbios do comportamento pode ser apontada a ausência do amor que se não rece­beu, produzindo uma terra psicológica árida, que abriu espaço para o surgimento das ervas daninhas, que são os conflitos.
O amor não se instala de um para outro momento, tendo um curso a percorrer.
Apresenta os seus pródromos na amizade que des­perta interesse por outrem e se expande na ternura, em forma de gentileza para consigo mesmo e para com aquele a quem se direciona.
É tão importante que, ausente, descaracteriza o sen­tido de beleza e de vida que existe em tudo.
A sua vigência é duradoura, nunca se cansando ou se amargurando, vibrando com vigor nos mecanismos emocionais da criatura humana.
Quando não se apresenta com essas características de libertação, é que ainda não alcançou o nível que o legitima, estando a caminho, ufilizando-se, por enquanto, do prazer do sexo, da companhia agradável, do in­teresse pessoal egoístico, dos desejos expressos na con­duta sensual: alimento, dinheiro, libido, vaidade, res­sentimento, pois que se encontra na fase alucinada do surgimento...
O amor é luz permanente no cérebro e paz contí­nua no coração."

(Joanna de Ângelis, psicografada por Divaldo Franco. Capítulo 62 do livro "Amor, imbatível amor")

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Perdoe o incômodo...



Dói ter que se afastar, mas dói ainda mais estar perto e não ser notado, tentar se aproximar e ser rejeitado, estar lado a lado e ainda assim se sentir tão distante...

A cada passo para frente, dois passos para trás... Quanto mais sinto estar chegando perto, em seguida vem sempre a realidade me mostrando que, em verdade, estou cada vez mais longe. Cada progresso que faço, após passada a euforia que me acomete ao te ver reagindo, parece tão pequeno... No momento em que acontece, a alegria de ver a sua reação é tão grande que me faz supervalorizar o significado dela. Não significa muito. Talvez nem signifique nada. Eu é que enxerguei demais. Iludi a mim mesma, como sempre.


Não é uma questão de desistir, é uma questão de entender a realidade e traçar um posicionamento sensato a partir disso. O melhor que tenho a fazer é cuidar da minha vida, porque já percebi que não há muito propósito nem muito sentido em acompanhar a sua.


Talvez você só esteja querendo me ouvir dizer a palavra certa... Mas quantas vezes eu já não a disse, de tantas e diversas formas, e você fingiu não ouvir? Eu não vou ser explícita só porque você quer que eu seja. Do que mais você precisa? Já demonstrei o que sinto de mais maneiras do que minha integridade costumava permitir, e nem isso é suficiente para você? 

Talvez você só esteja querendo que eu peça... Mas eu não vou pedir. E não é por orgulho, é por fidelidade... Fidelidade a mim mesma, aos meus princípios, à minha essência, ao meu jeito de ser. Não hesito em tentar ser uma pessoa melhor quando posso, mas de forma alguma eu seria capaz de mudar o que já tenho de bom apenas para agradar alguém que mal valoriza isso.
Talvez a razão de você exigir tanto de mim seja a sua enorme vaidade... Ou talvez a razão de eu achar que você realmente exige algo de mim seja a minha ingenuidade.

Este é um daqueles bizarros momentos em que você descobre que se enganou ao pensar receber alguma exclusividade. Não há nada para mim além do que há para todo mundo, e o fato de eu ser especial (ou de você fazer eu me sentir como se fosse) não significa que eu mereça ter algo a mais, tampouco que eu tenha realmente tido. 


Quando penso melhor sobre tudo isso, chego à conclusão de que meu problema é ser egoísta a ponto de querer representar alguma coisa em sua vida. Estou certa, o problema sou eu, o defeito está em mim. Você só fez o que tinha que fazer. Se tivesse feito menos, teria sido indelicado; se tivesse feito mais, teria sido falso. Você agiu certo, disse tudo certo, tudo na medida certa. Mas eu, equivocada e cheia de esperanças erradas, vejo coisas demais onde quase não há nada, interpreto demais palavras que não têm maiores significados, espero demais de alguém que não tem muito para me oferecer... 


O melhor que tenho a fazer é, de fato, manter-me um pouco afastada. Provavelmente, estando longe de você, descobrirei um pouco mais sobre mim mesma, e talvez finalmente compreenda porque sempre tenho essas ridículas expectativas e porque as projetei em você...


Desculpe por tomar seu tempo com minhas fantasias sobre o que eu poderia ser para você... Mas está tudo bem, foi bom enquanto durou. Por alguns momentos, foi bom pensar que você me percebeu, que tive sua atenção e, quem sabe, até seu sentimento. Foi bom. No futuro, vou rir de tudo isto, vou achar graça no modo como fiquei tão entretida em estar tão iludida. 

sábado, 10 de novembro de 2012

O vazio, as paixões e as conclusões

‎"Trinta raios convergentes unem-se formando uma roda
Mas é o vazio entre os raios que facultam o seu movimento.
Modelai o barro para fazer um jarro.
O oleiro faz um vaso, manipulando a argila.
Mas é o oco do vaso que lhe dá utilidade.
Recortai no espaço vazio das paredes portas e janelas
a fim de que um quarto possa ser usado.
Paredes são massas com portas e janelas
mas somente os vazios entre as massas
lhes dá utilidade.
Desta forma, o ser produz o útil
mas é o não-ser que o torna eficaz."
(Lao Tse)



Esse vazio do qual as pessoas tanto falam, esse vazio que dizem sentir dentro de si, essa sensação inexplicável de que falta alguma coisa... Não, eu não o sinto. Porém, por alguma razão que desconheço, tenho um sentimento indeterminado que me leva a agir como se eu sentisse esse vazio, como se precisasse preenchê-lo.

Não é a primeira vez que alimento um vício, que nutro uma paixão, que me vejo obcecada por um prazer mundano; mas desta vez é mais estranho, pois creio que posso dizer que jamais senti minha vida tão completa como agora. Nunca houve momento em que eu precisei menos de um vício do que agora. Jamais foi tão inexplicável o refúgio em uma paixão para preencher um vazio que não existe.

Sei que se trata de apenas uma fase, assim como já passei por tantas outras nos últimos meses, e mais tantas nos últimos anos, e sempre e sempre nesta vida. Eu sou assim. Estas coisas fazem parte da minha vida, e me fazem feliz, trazem-me alegria, distração e prazer; e depois que a fase passar, lembrarei-me dela com saudade e talvez até zombe. O problema é que isso me consome. Sinto-me ridícula por saber que deixei minha vida chegar a esse ponto. É como se eu me recusasse a viver a realidade, é como se eu não aceitasse tudo de maravilhoso que a vida está me proporcionando... É como se eu insistisse em trocar as alegrias concretas do mundo real pelos prazeres incertos e utópicos da minha imaginação.

Teimo em querer algo que está fora do meu alcance, teimo em sonhar com coisas que correm maior risco de terminarem em frustração e futilidade, quando a verdade é que tenho em minhas mãos tudo que é necessário para obter felicidade real, possível e estável. Parece que sou uma criança gulosa e mimada, que nunca está satisfeita com o que ganha, mesmo quando ganha todos os presentes que podem caber em uma loja de brinquedos. Ou ainda: parece que sou uma adolescente mimada e indecisa, daquelas que gastam toda a energia à procura de algo, e quando finalmente consegue, decide que não era bem aquilo que queria. 

Parece. Na vida real, não é bem assim. Eu penso e sinto como um ser necessitado de algo para preencher seu vazio, mas não ajo como um. Ao menos, não perante as outras pessoas. Não é esta a postura que eu adoto, talvez porque eu não queira admitir para mim mesma que esse meu outro lado existe e que merece ser atendido (e se eu tenho a maturidade de não dar voz ativa aos meus deslumbres, então talvez eu não seja tão idiota). O mais engraçado é ver como a verdadeira eu lida bem com tudo isso. Ela se sai muito bem fazendo isso. 

Quem lê minhas lamúrias pode pensar que ajo como uma desequilibrada e coloco tudo a perder em nome de uma ilusão... Mas não. Na vida real, eu faço o que é certo: não deixo escaparem as oportunidades, aproveito-as bem, e quando o desfecho é exitoso, usufruo, comemoro, agradeço a quem me ajudou a consegui-lo, consolo aqueles que não tiveram a mesma sorte que eu. E sigo em frente, como um ser humano maduro e saudável faz. Contudo, no restante do tempo - e eu não sei explicar onde é que consigo esse tempo -, entrego-me às fantasias, aciono o meu outro eu, a sonhadora, a cigarra, a ridiculamente deslumbrada. Meus dois eus convivem muito bem com o paradoxo das minhas aspirações. 


Também é muito interessante a forma como o meu lado iludido tenta justificar as paixões. Apaixonada e fanática, listo uma porção de razões pelas quais estou correta em estar viciada, elencando as qualidades do objeto do meu vício. Nem minto, nem invento. É tudo verdade. Daqui alguns anos, quando esta fase passar, o atual alvo da minha paixão continuará sendo digno de admiração; a diferença é que eu não estarei mais tão admirada. O que é que se passa comigo? 

Imagino que o lado bom de tudo isso é o fato de que essas fases funcionam como períodos destinados ao conhecimento e apreciação de coisas às quais eu não tinha me atentado antes. É uma boa teoria, e provavelmente seria verdadeira, se o objeto do meu vício fosse algo realmente louvável, rico e repleto de coisas a acrescentar em minha vida... Porém, eu penso: o que é mesmo ser fútil? Por que estou me julgando fútil por admirar o que estou admirando agora? Não há dúvidas de que sou patética por estar tão obcecada, mas um pouco de admiração pode ser merecido. 

Olho para trás e relembro de outros vícios, outras paixões, outras fases pelas quais passei. Foram muito intensas, assim como esta está sendo; duraram pouco, assim como prevejo que esta durará; foram muito divertidas, assim como essa tem sido... E depois que tudo passou, ficou aquela saudade gostosa de uma época em que podia me dar o luxo de perseguir uma coisa que gosto. E passado mais tempo ainda depois do fim, ficaram os conhecimentos que eu agreguei durante a fase. 

Todavia, eu sinto medo destas fases. Se elas sempre vieram, provavelmente é porque sempre virão; e eu estou ciente de que, um dia, chegará um momento em que eu não poderei vivê-las e saboreá-las. Chegará o dia em que eu não terei o tempo, a oportunidade ou o direito de negligenciar as coisas realmente importantes da vida em favor das coisas que apenas alimentam o lado artista da minha alma. E o que farei quando isto acontecer? Como procederei quando escutar, ao mesmo tempo, o chamado urgente do mundo real e o convite sedutor do mundo de fantasias? Atenderei ao primeiro, é claro; sou estúpida, mas nem tanto. Entretanto, o segundo ainda existirá, e não me será completamente indiferente. Precisarei ser muito, muito forte para conseguir ser feliz e eficiente a despeito de tudo isso. Precisarei de muito equilíbrio para saber conviver com essa dualidade.

Curioso: essas fases geralmente vêm em situações propícias para as suas vivências. Mais uma vez, olho para trás, e quando faço um balanço geral de todas, concluo que elas quase nunca vinham em momentos nos quais eu não tivesse ao menos um mínimo de oportunidade de senti-las plenamente. E mesmo quando vieram, eu soube conciliar. Deu tudo certo. Tudo sempre deu certo. E sempre vai dar. Todas as coisas encontrarão o seu caminho... E eu encontrarei o meu.