domingo, 31 de outubro de 2010

A necessidade dos outros de se auto afirmarem, e a nossa de julgá-los

Ontem assisti ao filme “Idas e vindas do amor” (Valentine’s Day), uma comédia romântica dirigida por Garry Marsharll. 

Antes mesmo de assistir o filme o telespectador já se impressiona, pois o elenco é recheado de estrelas: Julia Roberts, Jessica Alba, Jessica Biel, Ashton Kutcher, Jennifer Garner, Kathy Bates, Shirley MacLaine, Taylor Lautner, Taylor Swift, Anne Hathway, Jammie Fox, Queen Latifah... E mais outros atores que você provavelmente vai reconhecer porque já assistiu outros filmes com eles, se tiver o costume de assistir comédias românticas, como eu tenho.

Como é de se esperar de um filme com tantos personagens, há uma multiplicidade de histórias, e várias delas acabam entrelaçando-se. Achei a trama muito bem montada, há humor e romance na dose perfeita – se você gosta de comédias românticas, é claro.

 
Mas uma frase que me chamou a atenção, em meio a tantas teorias e chavões sobre o amor, foi a do personagem de George Lopez, um imigrante latino que trabalha numa floricultura, na tentativa de explicar porque o serviço de entrega de flores é tão requisitado no Dia dos Namorados: “Para algumas pessoas, o amor só existe se for proclamado diante das outras”. 

Que grande verdade! Por que somos tão preocupados com isto? Por que fazemos tanta questão de afirmarmo-nos perante os outros e, pior ainda, por que medimos o amor dos outros pelas aparências?

Em uma época de twitter, orkut, facebook, MSN e afins, achamos que temos acesso a todas as informações da vida de uma pessoa. Que tolos somos. É uma bobagem (ou seria ingenuidade mesmo?) achar que a vida de uma pessoa se resume ao que ela coloca em seu site pessoal. Há tantas outras coisas que passam pela cabeça de alguém, ou que acontece em sua vida, e que não cabem nos 140 caracteres de um tweet! E mesmo que caibam, nem tudo a que temos acesso é tudo que existe, ou nem é tudo verdade. 

Por mais pessoal que um Twitter ou perfil no orkut possa ser, o que estamos vendo ali não é só o que uma pessoa é; pode ser apenas o que a pessoa quer ser. Ou por acaso nunca nos deparamos com alguém que “força” uma vida social incrível só para parecer mais legal e entrosado? Ou alguém que se faz de culto mas na verdade nem curte ler? As redes de informação não rastreiam sua vida e publicam os resultados. Você é quem decide o que publicar lá.

Na contramão deste tipo de internauta, há aqueles que preferem se expor o mínimo possível: seu perfil no orkut tem apenas a foto, o nome e a data de aniversário. Têm poucas comunidades, poucos depoimentos e os scraps estão sempre apagados. Não colocam fotos, às vezes só alguns vídeos. Logo pensamos que a pessoa é sem graça, não tem amigos, não sai, não estuda, não faz nada, enfim, não tem nada que possa servir para nos entreter e alimentar nossa fome por saber da vida alheia; quando, na verdade, a pessoa apenas quer se preservar.

Eu, como viciada por orkut que sou, adoro olhar os perfis das pessoas – admito, sou curiosa. Gosto de conhecer diferentes tipos de vida, diferentes estilos, gosto de saber como as pessoas levam a vida, o que gostam de fazer, o que pensam da vida etc. Consequentemente, emito juízos de valor sobre as pessoas; é quase inevitável. Sou humana e tenho defeitos. Mas tenho em mente que nem tudo que meus olhos vêem é a totalidade; as opiniões que formo sobre as pessoas podem muito bem estar erradas (e várias vezes já tive provas disso).

Cada vida, cada alma, cada cabeça, é um universo de coisas, de ideias, de memórias; coisas estas que não se restringem a uma mera descrição ou visualização.

Parece difícil aceitar que alguém possa ser algo além do que você está vendo na tela do seu computador. Talvez por isso algumas pessoas gostam de colocar tanta informação sobre si mesma na Internet, talvez por isso queiram se auto afirmar, queiram mostrar que são queridas e amadas, que são de um jeito ou de outro: porque querem que os outros tenham a mesma ideia que ela tem de si mesma.

Não estou condenando este comportamento, porque o entendo. No fundo, no fundo, o desejo da maioria das pessoas é o mesmo: serem aceitas, serem compreendidas. É a grande necessidade do ser humano. Ninguém quer ser visto como anormal.

Ah, o comportamento humano... É um dos assuntos mais interessantes que podem existir. Na nossa imperfeição, fazemos (ou deixamos de fazer) tantas coisas que nem nós mesmos entendemos... Seguimos sem conhecer a nós mesmos, tentando desvendar nossos próprios mistérios ao mesmo tempo em que desvendamos os demais mistérios da vida. 

"O problema de agradar"

“Se estivesse ainda agradando  aos homens, 

não seria servo do Cristo.” 

- Paulo (Gálatas, 1:10)


"Os sinceros discípulos do Evangelho devem estar muito preocupados como os deveres próprios e com a aprovação isolada e tranquila da consciência, nos trabalhos que foram chamados a executar, cada dia, aprendendo a prescindir das opiniões desarrazoadas do mundo.

A multidão não saberá dispensar carinho e admiração senão àqueles que lhe satisfazem as exigências e caprichos; nos conflitos que lhe assinalam a marcha, o aprendiz fiel de Jesus será um trabalhador diferente que, em seus impulsos instintivos, ela não poderá compreender.
Muita inexperiência e invigilância revelará o mensageiro da Boa Nova que manifeste inquietude, com relação aos pareceres do mundo a seu respeito; quando se encontre na prosperidade material, em que o Mestre lhe confere mais rigorosa mordomia, muitos vizinhos lhe perguntarão, maliciosos, pelas causas dos êxitos sucessivos em que se envolve, e, quando penetra o campo da pobreza e da dificuldade, o povo lhe atribui as experiências difíceis a supostas defecções ante as sublimes idéias esposadas.
É indispensável trabalhar para os homens, como quem sabe que a obra integral pertence a Jesus-Cristo. O mundo compreenderá o esforço do servidor sincero, mas, em outra oportunidade, quando lho permita a ascensão evolutiva.
Em muitas ocasiões, os pareceres populares equivalem à gritaria das assembléias infantis, que não toleram os educadores mais altamente inspirados, nas linhas de ordem e elevação, trabalho e aproveitamento.
Que o sincero trabalhador do Cristo, portanto, saiba operar sem a preocupação com os juízos errôneos das criaturas. Jesus o conhece e isto basta." 





Lição n.º 47 do livro Pão Nosso, ditado pelo espírito Emmanuel e psicografado por Francisco Cândido Xavier. Os grifos na última frase são meus, não constam do original.
Enfim... Em um mundo onde a honestidade, os princípios e o trabalho digno perdem cada vez mais o valor, nada mais confortante que ler uma mensagem como esta. Jesus conhece nosso coração, e é isso que importa.

Livros que li no primeiro ano da faculdade – Parte III – “Política para meu filho”

Título: Política para meu filho


Autor: Fernando Savater

Tradução por: Eduardo Brandão

Edição: 1ª

Editora: Planeta

Ano: 2005

Página do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/74605


Trata-se de um livro adorável que li para a disciplina de Ciência Política e Teoria Geral do Estado. Tivemos o privilégio de estudar esta disciplina à mesma época em que ocorriam eleições em nosso município. Para ser sincera, nem todos os conceitos foram perfeitamente fixados em minha mente, mas do que restou, muito me serve.

O espanhol Fernando Savater fala de filosofia política como se estivesse tentando explicá-la a seu jovem filho – daí o título, é claro – que se chama Amador (o nome original da obra é “Política para Amador”). Ao fim da leitura, não há respostas para todas as perguntas, mas o procedimento percorrido ao longo da fase de questionar é delicioso e de grande aprendizado.

Destaco dois pontos:

  1. A origem da palavra “idiota”
“Os antigos gregos (sujeitos diligentes e valentes, pelos quais você sabe que tenho especial devoção) chamaram quem não se metia em política de idiotés, palavra que significava pessoa isolada, sem nada a oferecer às demais, obcecada pelas mesquinharias de sua casa e, afinal de contas, manipulada por todos. Desse idiotés grego deriva nosso idiota atual, que não preciso explicar o que significa” (pág. 14).

Que interessante. De fato, quem não se interessa por política vive à mercê dos que se interessam, e agora não me lembro exatamente se quem disse isso foi um professor, ou se li em algum lugar. Seja quem for o autor da frase, merece aplausos.

Política, de fato, não é um assunto de fácil compreensão ou que exerce grande atração. Mas não dá pra ficar totalmente alheio. Nossas vidas são afetadas pela política, diretamente, mesmo que não sintamos o efeito – e geralmente nós jovens não sentimos mesmo, e eu atribuo a isto dois motivos determinantes: primeiro, o fato de não termos o total controle financeiro de nossas vidas, dependendo muito (ou 100%) do dinheiro dos nossos pais; segundo, o fato de que após a Constituição de 1988 muita coisa está bem mais fácil que antigamente.

Hoje temos tanta liberdade, para sermos quem somos, votarmos em quer quisermos, ter a orientação sexual que preferirmos, falarmos e pensarmos da maneira que bem entendermos... Temos tantos direitos garantidos. E quando nascemos, tudo já era assim. Mal conseguimos imaginar que um dia – e nem faz tanto tempo assim – tudo foi diferente, foi pior. Talvez por isso os jovens de outrora eram muito mais engajados politicamente.

 2.   A invenção da democracia

Há uma parte fascinante do livro, no capítulo 4, em que o autor fala da razão pela qual ele acredita que a democracia surgiu na Grécia, traçando lindamente um paralelo entre ela e as competições desportivas, uma vez que estas também são invenção dos gregos. "A competição desportiva é fruto direto do estabelecimento da igualdade política", ele diz, à pág. 67. E na falta de melhores palavras para explicar, citarei trechos do próprio livro:

"surgiu na r(...) só os iguais podem competir entre si: se não se pode olhar o faraó no rosto de igual para igual, menos ainda se poderá disputa uma corrida ou uma queda-de-braço com ele; Nero organizava concursos de canto com lira só para ter o gosto tolo de receber todos os prêmios... como se os juízes pudessem atrever-se a não os dar para ele! (...) a competição exige igualdade humana, reconhecimento mútuo, camaradagem na rivalidade. Agora se fala muito (...) contra a competição em nossa sociedade. Esquecem que a competição é um indício inequívoco de sociedade democrática, que as sociedades não-competitivas são constituídas por castas intransponíveis baseadas no sangue ou na teologia. Para competir com os outros é preciso igualar-se antes com eles. Para competir com os outros necessita-se dos outros: ninguém compete sozinho." (págs. 67-68)

É ou não é uma belíssima justificativa?

Há também o capítulo 8, entitulado "Livres ou felizes?", que achei muitíssimo interessante, apesar de que, até onde me lembre, não concordei com tudo. Mas enfim, lemos para isso: não somente para engolir tudo, também precisamos mastigar direitinho e digerir somente o que acharmos necessário, tendo a humildade de aceitar certos conceitos novos, e também a sabedoria de ver o que pode estar errado, afinal, todos temos o nosso livre arbítrio para acreditarmos no que quisermos.

De qualquer forma, a leitura foi prazerosa e inesquecível. O título do livro não poderia ser mais adequado e minha postura diante dele (levando em consideração o nome do meu blog) não poderia ter sido outra: comprei-o e pretendo guardá-lo, para meus filhos, é claro.



OBS: Tenho uma crítica a fazer à capa da edição mais recente do livro (esta da foto ao lado). Passa uma ideia errônea do livro. Tudo bem que é destinado aos jovens, mas ficou jovial demais, parece até capa de um romancinho adolescente (com todo o respeito aos "romancinhos adolescentes", pois também sou leitora deles). Acho que poderiam ter mantido a capa original ou feito algo mais sério. 

Livros que li no primeiro ano da faculdade – Parte II – “O que é etnocentrismo”


Título: O que é etnocentrismo – Coleção “Primeiros passos”

Autor: Everardo P. Guimarães Rocha

Edição: 2ª

Ano: 1985

Editora: Brasiliense

Página do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/21729



Li para a aula de Antropologia; e confesso: eu também era daquelas que pensava que Antropologia é inútil ou no máximo serve para quem gosta de saber como o macaco passou a andar sobre dois pés, mas hoje eu admito que, depois que você aprende alguns conceitos, mesmo que poucos e básicos, sua forma de pensar e olhar o mundo muda drasticamente.

O livro é muito simples e didático, devido ao fato de ser destinado a iniciantes no assunto. Já começa de uma forma muito direta: “Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência” (pág. 7).

Não é incrível? É exatamente isto o que fazemos. Somos incapazes de tomar como certo algo que não obedeça aos nossos próprios padrões. “A diferença é ameaçadora porque fere nossa própria identidade cultural”, diz o autor na pág. 9.

“De qualquer forma, a sociedade do ‘eu’ é a melhor, a superior. (...) A sociedade do ‘outro’ é atrasada.” (pág. 9) “O etnocentrismo passa exatamente por um julgamento do valor da cultura do ‘outro’ nos termos da cultura do grupo do ‘eu’” (pág. 13)

Como fazemos isso! Até mesmo passei a evitar usar os termos “país mais evoluído”, ou “sociedade mais atrasada”, depois que li este livro. Às vezes me flagro cometendo este erro, mas já compreendo que não se pode falar em evolução ou atraso de uma maneira geral. Há evolução ou atraso de acordo com um determinado ponto de vista. Já é um chavão, por exemplo, dizer que os Estados Unidos são muito mais evoluídos que o Brasil. Em termos de tecnologia e distribuição de renda eles são, com certeza, mas será que o são em todos os aspectos? Às vezes dizemos que determinada cultura é mais atrasada que a nossa, mas ignoramos que em alguns aspectos ela pode ser muito mais desenvolvida.

Falando assim, lembro-me da leitura recente que fiz das primeiras páginas do livro “As veias abertas da América Latina”, do uruguaio Eduardo Galeano. No capítulo “O derramamento de sangue e lágrimas”, o autor fala da forma como os colonizadores europeus desprezaram as habilidades dos indígenas nativos das terras da América, simplesmente porque o viam como “povos não civilizados”.

“É quase certo - escreve Sergio Bagú - que às minas espanholas foram lançados centenas de índios escultores, arquitetos, engenheiros e astrônomos, confundidos entre a multidão escrava, para realizar um tosco e esgotador trabalho de extração. Para a economia colonial, a habilidade técnica destes indivíduos não interessava. Eles só eram contados como trabalhadores não qualificados.” (pág. 32)

Há uma infinidade de coisas que eu poderia seguir falando sobre isto, sobre relativização, sobre a teoria do evolucionismo social (muito interessante)... Contudo, prefiro parar por aqui, até para não correr o risco de falar bobagens, já que não sou uma especialista no assunto. Só gostaria de registrar o quanto se torna mais fácil ser tolerante quando vemos o mundo sem esta ótica do etnocentrismo. Não que eu já tenha conseguido. Paciência, tolerância e respeito são coisas que devemos ir treinando dia a dia. Não é fácil, mas é possível, se aceitarmos que não somos o centro do mundo, e que há muito mais na vida do que as verdades que tomamos como únicas.